Prefácio

Chamei esta seção de abertura “Prefácio”, mas somente porque precisava lhe dar algum nome. Eu geralmente pulo os prefácios, e talvez você também faça isso.

Mas, por favor, não pule este. Vou lhe contar a história da relação deste livro com um mundo em rápida transformação: de que forma ele se ajusta dentro de questões mais amplas de equidade e justiça social e como se conecta com os crescentes insights da ciência cognitiva sobre a aprendizagem.

Se você é um veterano no Aula nota 10 ou não conhece a obra, este prefácio pode ajudá-lo a entender o que irá ler nas próximas páginas.

No verão de 2019, comecei a revisar o Aula nota 10 pela segunda vez. Eu já o havia revisado uma vez anteriormente, compartilhando o que havia aprendido com um estudo mais aprofundado e aproveitando a sabedoria de professores que adaptaram as técnicas originais. Eu os observei ensinar e concluí coisas do tipo Eu jamais teria pensado nisso ou Como não pensei nisso? Então surgiu a versão 2.0.

Desta vez quis aproveitar de novo essa sabedoria, mas também fazer uma mudança maior. Eu queria discutir as pesquisas em psicologia cognitiva que estavam rapidamente se somando ao nosso conhecimento de como o cérebro humano funcionava e como a aprendizagem acontecia. O fato de o que o psicólogo da Universidade da Virgínia Daniel Willingham chama de “revolução cognitiva” não estar aparecendo no ensino em sala de aula era, para mim, um problema de equidade. Os alunos mereciam um ensino informado pela ciência. Já não era mais viável deixar as conexões com esses estudos implícitas no meu próprio livro ou não usá-los para entender mais claramente não só o que era (e não era) importante fazer na sala de aula, mas também o porquê.

O ensino excelente “sempre começa com uma visão clara e um propósito sólido”, escreve Adeyemi Stembridge em Culturally responsive education in the classroom. “O professor que entende isso de verdade é capaz de evocar brilhantismo mesmo das estratégias mais mundanas.” Mas, se um propósito claro pode tornar brilhantes estratégias mundanas, uma falta de clareza sobre o propósito também pode fazer uma estratégia efetiva fracassar. Saber o porquê é estar vários passos mais próximo de consistentemente saber como.

Eu queria fazer mais com tudo isso. Se você sabe que, como coloca Willingham, os alunos se recordam daquilo sobre o que pensam, você pode propor, com confiança, o uso de Todo mundo escreve e De surpresa para ajudar a garantir que todos tenham refletido profundamente sobre o conteúdo de uma atividade. Se você sabe que os alunos precisam se sentir psicologicamente seguros para aprender, pode tranquilamente propor o uso de Hábitos de atenção para envolvê-los em uma cultura que assegure constantes mensagens de apoio dos colegas.

Assim, a versão 3.0 começou a tomar forma. Substituí o capítulo sobre o planejamento da aula por outro sobre a preparação. Os dois não são a mesma coisa, é claro. Preparação é o que você faz depois que o plano está escrito – por você ou por outra pessoa – para se preparar para colocá-lo em prática. O tempo passado nas escolas foi me chamando a atenção para esse aspecto importantíssimo – e para a frequência com que isso é ignorado. A primeira técnica desse capítulo é Planejamento exemplar – escrever as respostas ideais que você quer que os alunos deem a perguntas importantes que você fará durante a aula. Isso pode parecer uma tarefa desnecessária. Você pode pensar: Eu já tenho uma boa noção do que os alunos devem dizer. Mas agora eu entendo que escrever ajuda a aclarar sua memória de trabalho, e isso tem um efeito muito importante. (Discutirei, mais adiante, a memória de trabalho – principalmente sobre o que você tem consciência de estar pensando – no Capítulo 1).

Quando você está pensando muito sobre alguma coisa, e sua memória de trabalho está cheia, a qualidade e a profundidade da sua percepção ficam reduzidas. Se está dirigindo um carro enquanto fala ao telefone com uma pessoa de quem gosta, você tem muito mais probabilidade de calcular mal a velocidade de aproximação de outro veículo e sofrer um acidente. Não que suas mãos não estejam livres, mas sua memória de trabalho não está. Em momentos críticos, fazer uma coisa implica não fazer outra. Isso vale para os alunos e também para os professores. Se está tentando se lembrar da resposta que queria que os alunos dessem enquanto eles estão lhe respondendo, você não vai ouvir o que eles dizem com tanta precisão quanto poderia. Mas anote a resposta e dê uma olhada nela rapidamente. Isso fará uma diferença profunda. Você ouvirá com mais clareza como os alunos estão pensando.

A psicologia cognitiva também estava tendo cada vez mais clareza quanto à importância do conhecimento prévio e da memória de longo prazo. Por isso, acrescentei novas técnicas baseadas em como os professores estavam aplicando Prática de recuperação e Organizadores do conhecimento. Dylan Wiliam chamou a teoria da carga cognitiva de “a coisa mais importante para os professores conhecerem”, e você verá a sua relevância ao longo do livro e especialmente na técnica 21, Mostre as etapas. Por fim, decidi também acrescentar o Capítulo 1, que resume os princípios fundamentais que compõem um forte modelo mental do ensino em sala de aula – um modelo mental tido pelos psicólogos cognitivos como necessário para guiar uma tomada de decisão consistente.

Era inevitável que houvesse mudanças no livro – não só devido às adaptações úteis e algumas vezes brilhantes que vi professores fazerem, mas também pelos erros honestos. Houve salas de aula que visitei que me deixaram sem fôlego e também salas de aula onde um professor estava “aplicando o Aula nota 10” e não gostei do que vi, o que também foi motivo para reflexão. Como é possível que eu pudesse ver dois professores usando técnicas similares em salas tão próximas e um me fazer sentir orgulho e euforia e o outro, estresse? Digo isso sem julgamentos. Uma das mais abrangentes lições de vida que aprendi com excelentes professores pode ser encontrada na técnica 59, Discurso positivo, e especificamente a seção sobre Pressuponha o melhor, que envolve evitar o impulso de atribuir intenção negativa a uma ação, a não ser que ela seja inquestionável. Por exemplo, quando alguns alunos não seguem suas orientações, se você estiver pressupondo o melhor, pode dizer: “Pessoal, posso não ter sido suficientemente claro sobre como fazer isso; eu gostaria que vocês trabalhassem em silêncio” ou “Esperem. Alguns de nós esqueceram que essa atividade deveria ser silenciosa. Vamos tentar fazer isso agora”. Pressupor o melhor – não devo ter sido suficientemente claro ou vocês provavelmente esqueceram vs. vocês não se importam ou ignoraram as instruções – não só desenvolve relações mais fortes e mais positivas como também faz você perceber sua sala de aula – e o mundo – de maneira diferente, pois o que você pratica ver é, no fim das contas, o que você passa a ver. Em A vantagem do cérebro feliz, Shawn Achor chama isso de Efeito Tetris. Se você joga Tetris por muito tempo, começa a imaginar suas formas coloridas e brilhantes caindo por todos os lados. Se você cria o hábito de todos os dias nomear as coisas pelas quais é grato, passa a ver o mundo cheio de coisas que merecem gratidão. Se você assume a prática pela perspectiva das boas intenções, você vê um mundo se empenhando pela bondade e isso o torna mais feliz, mais otimista e provavelmente um professor melhor.

O mesmo vale para os alunos. Quando os ajudamos a fazer a interpretação mais bem intencionada possível dos seus colegas – Tem certeza de que ela teve a intenção de empurrar você?, Você tem certeza de que ele tinha a intenção de fazer piada com isso? –, oferecemos a eles um mundo melhor. Como assinalam John Haidt e Greg Lukianoff, ter uma mentalidade benevolente, positiva e otimista é uma forma mais saudável de passar pela vida.

Tudo isso é divagar um pouco – pelo menos se pensar no bem-estar dos estudantes for uma divagação. O que quero dizer é que, como professores, lembrar de pressupor o melhor e dizer aos alunos “Minhas orientações não devem ter sido suficientemente claras” em vez de “Alguns de vocês não estavam ouvindo as orientações” na verdade nos faz interromper nossa tendência a cometer o erro fundamental de atribuição e, em vez disso, perguntarmos Na verdade, as minhas orientações foram suficientemente claras? Talvez não.

Quando vi salas de aula onde as técnicas que descrevi eram usadas de uma forma que não parecia correta, me empenhei em me questionar. Minhas orientações foram suficientemente claras? Por que as pessoas esqueceriam? As técnicas serem ocasionalmente mal aplicadas foi resultado do que eu escrevi – ou do que deixei de dizer?

A resposta, é claro, algumas vezes foi “sim”. E como não seria? Ensinar é um trabalho difícil, sob condições complexas e frequentemente desafiadoras. Seria impossível fazer tudo certo sempre – para um professor e certamente para alguém que procura descrever o que os professores fizeram ou poderiam fazer.

Retornarei a esse tópico mais tarde. Por enquanto, descreverei uma mudança nesta edição que resulta dessa reflexão: os vídeos Pedra Angular. Eles são vídeos mais longos (a maioria tem cerca de dez minutos de duração) que pretendem mostrar um
arco mais completo da aula de um professor, e neles são usadas múltiplas técnicas em combinação. Eles transmitem uma noção mais ampla de como são a cultura e o caráter das salas de aula excepcionais e as formas como as técnicas se combinam e interagem. Eu os acrescentei porque mostrar uma técnica com clareza algumas vezes requer um grau de foco que tanto revela quanto distorce o trabalho de um professor.

Consideremos Christine Torres: você verá diversos vídeos da sua sala de aula neste livro. Eu a vi pela primeira vez ensinando em uma visita improvisada à Escola Preparatória de Springfield, Massachusetts, e, assim que entrei em sua sala de aula, me surpreendi. Suas lições eram impecavelmente preparadas. Eu usaria a palavra academicamente para descrever o rigor do conteúdo e as ideias que seus alunos desenvolveram. Ela expressou sua crença na capacidade deles para a excelência em tudo o que fazia e, embora esperasse esforço e foco dos alunos, amor, alegria e ludicidade também transpareciam.

Observei quando um de seus alunos, fazendo um comentário direcionado aos seus colegas, murmurou de forma inaudível ao mesmo tempo desviando o rosto enquanto falava. “Não fale com a parede, pois a parede não se impooortaaa”, Christine cantarolou em uma voz cadenciada. O aluno se virou e sorriu cautelosamente, notando os olhares dos seus colegas, que o apoiavam. A parede poderia não se importar, mas seus colegas estavam lhe dizendo com o contato visual que se importavam.
Ele se preparou e apresentou sua compreensão sobre o romance com uma voz hesitante, mas clara, e você podia ver, depois de tudo, que ele estava feliz – e talvez igualmente um pouco surpreso. Ele fez; ele conseguiu fazer. Essa é um das aulas que joga você lá em cima, que extrai o melhor de você.

A sala de aula de Christine era, para usar uma expressão à qual retornarei, um espelho brilhante. Ela refletia seus alunos, revelando e valorizando o que eles realmente eram, mas também os transformava, trazendo à tona coisas que não estavam visíveis. Ela não só lhes dava uma oportunidade, mas também os influenciava intencionalmente a se engajarem em comportamentos positivos que não teriam arriscado, ou nem mesmo saberiam que existiam, sem a luz de uma cultura que os incentivasse de maneira proposital, iluminando-os. Todos os ambientes socializam as pessoas neles inseridas para que façam determinadas escolhas e exibam determinados comportamentos. Cass Sunstein e Richard Thaler explicam em Nudge: o empurrão para a coisa certa: não existe caso neutro. Existem meramente casos de maior ou menor intencionalidade. Uma sala de aula onde os alunos reagem com desinteresse em relação aos comentários de seus colegas não é mais “natural” do que uma como a de Christine, onde eles reagem incentivando o colega. Uma delas só é mais difícil de criar.

Posteriormente enviamos nossas câmeras para a sala de aula de Christine e, entre as coisas que extraímos do vídeo há uma série de pequenos momentos em que ela fazia alguma versão do que havia feito quando cantou “Não fale com a parede, pois a parede não se importa” e socializou seus alunos, encorajando-os a falar em voz audível e uns com os outros. “Alto e com orgulho” era o que ela mais dizia.

Seria difícil entender como ela faz isso – o ritmo, o tom de voz, a variação nas frases que utiliza – se você não visse uma série de exemplos em rápida sucessão. Você precisa de uma montagem – uma série de momentos em que ela teve essas atitudes reunidos de forma organizada. Mas se você só visse a montagem teria apenas uma parte do panorama. Você também precisaria experimentar o que eu vi e senti quando estava no fundo da sala de aula de Christine naquela primeira manhã – uma noção do quanto era rigoroso seu ensino e do amor que seus alunos sentiam por ela e também do amor vindo dela. Você precisaria ver essas coisas para entender como seu uso de O formato importa (técnica 18, que inclui estimular os alunos a falar de forma audível) se relacionava com as outras coisas que ela fazia. Por isso acrescentamos os vídeos Pedra Angular, já descritos na introdução. Eles foram feitos, em sua maioria, na sala de aula e, a partir deles, foram editados vídeos mais curtos e mais focados, que demonstram uma técnica específica; espero que assistir aos vídeos Pedra
Angular lhe proporcione uma perspectiva mais abrangente.

* * * * * * *
Era aqui que se encontrava esta edição do livro quando, repentinamente, 2020 aconteceu.

Não é preciso dizer que o transtorno resultante da epidemia da covid-19 teve profundos efeitos nas escolas e no ensino. Parte disso está refletido neste livro – incluí barras laterais com exemplos de técnicas usadas em um ambiente on-line baseado na premissa de que o ensino remoto desempenhará um papel na escolarização em alguns locais mesmo depois de as escolas retornarem ao normal ou se aproximarem dele.

No entanto, a crescente urgência no movimento pela justiça e pela transformação social também explodiu em 2020 na esteira da morte de George Floyd nas mãos da polícia de Minneapolis, o mais recente exemplo de um padrão horripilante de cidadãos negros e pardos sendo mortos pela ação policial. E, é claro, isso fez lembrar a longa história de desigualdades sistêmicas em outras instituições, incluindo as escolas. Isso fez meus colegas e eu definirmos mais explicitamente o papel que queríamos desempenhar na luta por uma sociedade mais equitativa e justa.

Quero dizer, da forma mais direta possível, que o Aula nota 10 é e sempre foi um livro sobre justiça social. (A desigualdade sistêmica do sistema educacional dos Estados Unidos tem sido óbvia para qualquer um que se importe em olhar desde muito antes de 2020.) Sua premissa é que alunos não nascidos com privilégios e oportunidades – frequentemente negros e pardos – merecem escolas e salas de aula que não apenas lhes forneçam uma oportunidade de realização – implicando que a chance está ali se eles a escolherem – sem levar em conta que muitos acabam não tendo essa chance. Sua premissa na verdade é de que a oportunidade de frequentar salas de aula onde é possível perseguir, com entusiasmo e atenção, um interesse na empreitada escolar não é suficientemente boa. Justiça social significa (para mim, pelo menos, e espero que para as pessoas que lerem este livro) o direito que cada estudante tem de estar em salas de aula que consistentemente assegurem que eles podem perseguir seus sonhos de se tornarem cientistas, engenheiros e artistas, presidentes de bancos, organizações e nações – salas de aula que socializam o estudo e protegem e criam as condições ideais para suas conquistas. Eles merecem escolas que os encoragem e os estimulem a se engajarem em comportamentos que promovam sua aprendizagem e a aprendizagem daqueles à sua volta. E eles merecem alguma coisa que o autor e especialista em educação Alfred Tatum chama de “equidade disciplinar”.

“Existem dezenas de disciplinas ensinadas em nível universitário que parecem ter um apagador de negros”, escreveu Tatum recentemente. É imperativo que “todas as disciplinas pertençam a todos os grupos”, observou ele, mas o sentimento de apagamento existe (na engenharia, na ciência da computação e na bioquímica, por exemplo), porque “não fornecemos a base suficiente nas escolas de ensino fundamental e ensino médio”. O fornecimento dessa base requer força dos acadêmicos e força da cultura – um espelho brilhante em cada sala de aula que reflita os alunos e os atraia para a luz.

No momento em que o aluno de Christine se virou, hesitante, para encarar a sala – inseguro de que conseguiria atender ao pedido da professora – e viu não só o apoio nos olhos de seus colegas, mas também uma norma social refletida que dizia nós participamos com entusiasmo da sala da Srta. Torres; nós somos, sem nenhuma vergonha, intelectuais e assim descobrimos que podemos fazer isso – esse era um momento de justiça social.

Quando a cultura não é forte assim, quando ela não estimula o engajamento positivo e produtivo como norma, os professores fazem concessões. O atributo principal do plano de uma aula deve então ser sua capacidade de ganhar a atenção dos alunos com alguma coisa atrativa, pois eles não estão preparados e não foram socializados de modo que naturalmente dediquem sua atenção à aula. A pergunta Quão rigorosa eu posso tornar esta tarefa? está fora de discussão.

Essa concessão não está, de forma alguma, limitada a certas escolas. Enquanto você lê isto, existem dezenas de milhares de estudantes em quase todos os estratos da sociedade norte-americana frequentando salas de aula em várias condições de
concessão, onde uma tirania silenciosa – mais ou menos invisível, porém ainda potente – é exercida. O relatório do The New Teacher Project (TNTP), The opportunity myth, sugere o quanto é endêmica essa tirania silenciosa. Acompanhando quase 4 mil estudantes em cinco sistemas escolares diferentes, o TNTP encontrou que, mesmo quando concluíam o trabalho que haviam recebido, mesmo quando haviam se esforçado para dar o melhor de si e estabeleciam um objetivo de um estudo mais aprofundado, os alunos, em sua maioria, não estavam nem perto de atingir as coisas que aspiravam. O trabalho que eles faziam na escola não era suficientemente desafiador ou exigente. Mesmo aqueles que recebiam notas altas não estavam preparados. “Suas vidas”, escreveram os autores, “estão lhes escapando um pouco mais a cada dia, sem que eles ou suas famílias tenham conhecimento – não porque não conseguem dominar o material desafiador, mas porque eles raramente recebem uma chance real de tentar. Os alunos passavam mais de 500 horas por ano letivo em tarefas que não eram apropriadas para seu nível escolar e com instrução que não exigia o suficiente deles – o equivalente a seis meses de tempo de aula desperdiçado em cada disciplina fundamental”.

Justiça social para mim são salas de aula que sejam radicalmente melhores, salas de aula que estimulem o sucesso acadêmico e preparem todos os alunos para atingirem seus sonhos. Se uma sala de aula funcionar como se seus jovens não fossem capazes de grandiosidade, ela jamais será uma sala de aula justa. Mas operar como se os jovens fossem capazes de grandiosidade não significa ceder. Significa amá-los o suficiente para estimulá-los, com acolhimento, bondade e humanidade, a trabalhar mais arduamente do que estão acostumados. Significa amá-los o suficiente para estabelecer limites, com humanidade, consistência e firmeza, é claro. Aqueles de nós que são pais sabem que isso também vale para nossos próprios filhos.

O termo justiça social, estou ciente, significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Diferentes professores em plena consciência responderão ao chamado da igualdade de diferentes maneiras, mas, se os alunos frequentarem escolas que não estimulem neles a excelência na leitura, na escrita, em ciências e em matemática e, portanto, os deixarem despreparados para atingir a excelência e a liderança em seu campo escolhido, não teremos criado um mundo mais justo socialmente, independentemente do quanto possamos estar comprometidos com a ação. Equidade começa com êxito.

Além do mais, como observou um dos nossos melhores líderes escolares, se nossos alunos não trouxerem conhecimento e habilidades analíticas para a discussão da justiça social, corremos o risco de dar origem a mutações letais – melhores intenções com pouca ponderação que fazem mais mal do que bem. Em 2021, educadores no Oregon receberam um documento oficial alertando-os de que pedir que os alunos mostrem seu trabalho em tarefas de matemática era uma forma de “supremacia branca”. Um amigo compartilhou uma discussão on-line em que os educadores argumentavam que a tarefa de casa e o sistema de notas eram “construtos colonialistas”. É difícil entender como tantas pessoas acreditam em argumentos enganosos de que se esforçar para atingir os mais altos níveis de êxito, de realizações e de excelência é, de alguma forma, antiético para pessoas não brancas ou equivalente a “adotar a branquidade”. É alarmante até mesmo ter que imaginar isso. Este livro é escrito com a crença de que tais proposições são erradas e destrutivas e de que a realização na trajetória escolar é o mecanismo que possibilita a equidade e a justiça social.

Um dos textos mais memoráveis que li no ano passado é Black man in a white coat, de Damon Tweedy, um livro de memórias das experiências do autor durante sua educação médica e como médico praticante. A crise da covid provou, no mínimo, que, como acontece com quase todos os outros benefícios da nossa sociedade, a assistência médica de qualidade é distribuída de forma desigual. Para todos aqueles que já leram o livro de Tweedy, isso não deve ter sido uma surpresa. Se aspiramos a uma sociedade justa, equitativa e imparcial, isso exigirá uma abundância de médicos de todas as procedências e, mais ainda, médicos de comunidades não brancas e outras que são mal servidas pela área da saúde. Além disso, a justiça social depende a longo prazo que eduquemos um leque diverso de médicos, engenheiros, cientistas, advogados, artistas, investidores e empresários da tecnologia.

Eis um exemplo: durante a pandemia de covid, os oxímetros de pulso, aparelhos usados para medir os níveis de oxigênio no sangue, tinham três vezes mais probabilidade de apresentar leituras incorretas para pessoas com pele negra do que para brancos, publicou recentemente The Economist. Isso porque os aparelhos foram projetados tendo em mente a pele branca, mais translúcida. Números desconhecidos de pacientes com pele mais escura em sofrimento foram mandados para casa indevidamente por causa disso. E, é claro, esse tipo de problema existe em mil lugares e provavelmente continuará a existir nesses lugares até que seja atingida maior diversidade entre os engenheiros que criam e fabricam aparelhos médicos. Isso, segundo o argumento de Alfred Tatum, significa “equidade disciplinar”: estudantes não brancos altamente treinados e preparados em cursos de ciência avançada e matemática – e em todas as outras áreas.

Assim sendo, se justiça social para você significa marchar em protesto, eu apoio você. Muitos dos seus alunos podem formar filas atrás de você, também. Mas saiba que alguns, em vez disso, irão querer criar sistemas de informação, e isso também é importante. Alguns irão optar por se perderem na cor e na composição da pintura em que estão trabalhando, e isso também é importante. É direito deles estarem preparados por nossas escolas e nossas salas de aula para irem aonde quer que suas paixões os conduzam. Isso também faz parte da justiça social: cada jovem ser capaz de definir seu sonho e ir em busca dele. É necessário olhar para a maioria das crianças na pobreza, em grande parte negras e pardas, e para a maioria das crianças, ponto final. Não seria esse o caso?

Embora o papel do ensino em uma sociedade justa e equitativa seja a minha paixão, devo observar que não acho que este seja um livro sobre a educação de “crianças pobres” ou “crianças negras e pardas”. Crianças são crianças, mesmo que as escolas nem sempre sejam o que elas merecem. Este livro é sobre ensinar melhor, embora seja verdade que aprendi o que aprendi estudando professores na parte do setor educacional que é mais importante para mim, pessoalmente.

Mas não sou ingênuo o suficiente para pensar que, por ter fortes sentimentos por esse aspecto da justiça social, eu o entendo completamente ou compreendo toda a experiência das comunidades que procuro servir. Por isso, parte da escrita deste livro envolveu um processo que durou meses de aprendizagem, frequentemente na companhia de meus colegas da equipe Teach Like a Champion. A gama de pesquisas que li se expandiu para incluir teoria social, justiça social e ensino culturalmente responsivo, por exemplo. Você verá alguns dos autores que li nesse processo referenciados nas páginas deste livro: Zaretta Hammond, Lisa Delpit, Alfred Tatum, Rudine Sims-Bishop e Adeyemi Stembridge.

Minha equipe inteira também participou de uma revisão interna de todo o nosso trabalho. Ela foi conduzida pelo meu codiretor de gestão, Darryl Williams – é difícil liderar o processo de questionamento do nosso próprio pensamento –, e envolveu feedback e insights de todos os meus colegas, além de parceiros e líderes de escolas que usam o Aula nota 10 em organizações e escolas. Discutimos exaustivamente as técnicas e os termos no livro para garantir que o tom soasse correto e as descrições reduzissem a possibilidade de aplicação incorreta ou interpretação equivocada. Assistimos e reassistimos atentamente aos vídeos, prestando muita atenção a como as técnicas eram retratadas para que os professores as aplicassem e adaptassem com sucesso para dignificar, elevar e atender os alunos. Houve vezes, para ser honesto, em que os vídeos ou a minha redação não capturavam acuradamente o que nos empenhávamos em transmitir, e essa revisão resultou na reescrita de passagens deste livro, na renomeação de técnicas ou de conceitos dentro das técnicas e na exclusão de alguns vídeos.

Tenho consciência de que muitos leitores do Aula nota 10 podem ter ouvido críticas a algumas técnicas – O formato importa e o que era então chamado de POSSO, por exemplo. E foi com alguma surpresa que, enquanto me engajava no processo de revisão, abri minha cópia do Aula nota 10 2.0 para relê-la e fiquei surpreso ao descobrir como eu sabia pouco sobre por que e como havia incluído algumas técnicas. Essas seções do livro foram extensamente revisadas, sendo cuidadosamente reestruturadas a fim de assegurar que todos os leitores entendam plenamente por que e como eles podem usá-las com confiança para ajudar os alunos a prosperar e ter sucesso. Quero deixar claro – acho que essas técnicas, se bem feitas, estão entre as alavancas mais essenciais para o sucesso e a justiça social. Você pode ver isso na sala de aula de Christine, assim como verá em mais uma dúzia de salas de aula. Mas, como elas são ferramentas poderosas, também é importante usá-las da forma correta. Os críticos que alegam que elas são uma forma de tirania ou esforço para “controlar corpos negros e pardos”, quando não estão informados por distorção deliberada, perdem de vista: que uma liberdade adquirida a partir uma cultura que pede que os alunos monitorem uns aos outros e em que as ideias dos alunos são, portanto, deliberadas, refinadas e celebradas, supera de longe as supostas restrições que ela impõe. Dito isso, eu também já estive em uma sala onde a aplicação parecia errada. Uma aplicação falha não indica um princípio sólido – mas nos lembra do quão importante é uma aplicação melhor e mais responsiva.

Houve outros pontos revistos, também. Ao reler meu trabalho original pude ocasionalmente ver exemplos estruturados de forma insuficiente e algumas vezes descrições que pareciam não pressupor o melhor dos alunos. Parte da razão disso foi e é minha profunda valorização dos professores. Meu desejo para este livro é que ele prepare os professores tanto para os cenários mais desafiadores que enfrentarão – aqueles que abalam sua fé de que terão êxito e que fazem as pessoas abandonarem a profissão – quanto para os momentos alegres e radiantes que os inspiram e fazem do ensino o melhor trabalho no mundo. Existem alguns livros preciosos que falam sobre esses momentos difíceis. E assim escrevi exemplos que mostram alunos em seus momentos mais desafiadores. Não é meu pressuposto que os jovens “geralmente” são assim. Meu pressuposto sempre parte de que é sabido que os educadores amam os jovens mesmo – ou especialmente – quando estabelecem limites e fornecem estrutura para eles, mas posso entender como alguns exemplos podem ser interpretados ao contrário. Assim sendo, os examinei e tentei reduzir qualquer implicação de que os alunos têm a intenção de se comportar mal. No entanto, também é importante ser honesto sobre o trabalho. Os alunos em qualquer sala de aula, em qualquer lugar, representam um corte transversal da natureza humana. Qualquer sala de aula em qualquer lugar é uma sala cheia de bondade, fraquezas, virtude, tolices, sabedoria e insensatez. É por isso que o trabalho é tão difícil. Sou grato se, como leitor, você compreender que a razão por que algumas vezes dou exemplos de comportamento desafiador é porque essa é uma realidade com a qual os professores lidam – muito frequentemente em silêncio e sem apoio sistemático.

No final, o processo de autorreflexão e de autoexame também me ajudou a ter clareza sobre o que acredito. O que eu acredito é que questões de justiça social são inseparáveis de questões de ensino e que questões de ensino incluem a necessidade de deliberadamente planejar culturas de sala de aula para garantir uma cultura mais encorajadora para os jovens.

Algumas pessoas ficam desconfortáveis com isso. Elas veem a construção de culturas como coercitiva, um exercício de excesso de poder e autoridade. Mas retorno ao erro fundamental de atribuição. Atribuímos o comportamento de outra pessoa a
“características pessoais persistentes” e “minimizamos a influência da situação à sua volta”. Vemos traços permanentes – ele não se importa – em vez de uma pessoa que pode se importar profundamente em um contexto diferente. Pensamos de forma insuficiente sobre o ambiente – como eu crio condições que façam com que ele queira se importar? – e subestimamos como as pessoas reagem a sinais e normas. Às vezes essas normas estão praticamente gritando e, no entanto, de alguma maneira não conseguimos ouvi-las.

Outro campo de estudo que também foi importante para mim ao escrever este livro é a biologia evolucionária, a rede na qual os humanos que venceram a luta evolutiva venceram coordenando-se em grupos e evoluíram para ser excepcionalmente reativos ao que é exigido para inclusão no grupo – isso é da mais alta importância segundo um ponto de vista evolutivo. Nós somos, em primeiro lugar, criaturas de cultura, extremamente sensíveis às normas sociais, e cada pessoa jovem merece entrar em uma sala de aula onde as normas sociais são o mais positivas e construtivas possível.

Deixe-me explicar o que quero dizer descrevendo um momento na vida de um aluno. Vamos chamá-la de Asha. Ela está na aula de biologia e acabou de ter uma ideia. Está apenas parcialmente desenvolvida – ainda é uma noção –, mas ela se pergunta se pensou em alguma coisa que os outros não pensaram. Talvez essa ideia seja alguma coisa inteligente. Ela está um pouco assustada em compartilhar o que está pensando. Sua ideia pode estar errada ou, o que é igualmente ruim, já ser óbvia para todos os outros. Talvez ninguém se importe muito com a recombinação do DNA e com a faísca que repentinamente se acendeu na cabeça dela. Talvez dizer alguma coisa com determinação sobre a recombinação do DNA faça de você aquela pessoa – aquela que ergue a mão muito frequentemente, que se esforça demais, que rompe o código social. Esses pensamentos até agora a levaram a aderir a uma filosofia que aconselha: Guarde para si; não deixe ninguém ver seu intelecto; não corra riscos; adeque-se. Mas, de alguma maneira, nesse momento o desejo de expressar seu pensamento superou sua ansiedade. Ela ergue a mão, e o professor a chama.

O que acontece a seguir é fundamental para o futuro de Asha. Seus colegas irão demonstrar que se importam com a sua ideia? Ela verá interesse nos rostos deles? Eles vão responder confirmando com a cabeça ou fazendo comentários? Vão fazer alguma pergunta complementar? Registrar uma frase em suas anotações? Ou vão ficar atirados em suas cadeiras e virados para outro lado, checando seus telefones literal ou metaforicamente, com sua linguagem corporal expressando indiferença? Ah, você falou alguma coisa? E um sorriso desdenhoso. O próximo comentário vai ignorar sua ideia? Será que ao menos haverá um próximo comentário ou suas palavras ficarão perdidas em um silêncio que lhe diz que ninguém se importou o suficiente para reconhecer ou mesmo olhar para ela depois que falou?

Esses fatores são as estações da via-sacra de Asha. Eles influenciarão a relação que ela percebe entre ela e a escola e suas aspirações. Ela tem um espírito vibrante, cheio de ideias que normalmente não compartilha, e silenciosamente se questiona se talvez alguém como ela poderia se tornar médica. Ela não conhece ninguém que tenha feito isso, mas se vê pensando a respeito algumas vezes.

Obviamente, todos esses sonhos não se resumem a esse momento, mas seriamos tolos se desconsiderássemos sua relevância. Esse poderia ser um pequeno passo no caminho até a faculdade de medicina. Ou poderia ser a última vez em que ela ergue a mão durante o ano inteiro.

Sim, é importante se o seu professor reage ao seu comentário com frases de apoio – mas talvez não tão importante quanto a resposta do ambiente social, dos colegas de Asha. Se o professor elogia o comentário de Asha em meio ao desdém e ao silêncio contundente dos seus colegas, o benefício será limitado. A capacidade do professor de moldar normas na sala de aula de Asha é tão importante quanto sua habilidade de se conectar individualmente com ela. As relações são importantes, mas as normas sociais que criamos provavelmente são mais importantes. Essa é uma coisa difícil de reconhecer. Ela nos afasta um pouco do centro da história, mas também é algo muito importante de ser reconhecido. Em muitas salas de aula, não há um modelo sobre o que as normas sociais devem comunicar enquanto Asha fala ou depois que ela falou, e suas palavras ficam soltas no ar. É realmente por causa delas que os alunos demonstram interesse no que seus colegas dizem? Ou talvez haja um modelo, mas sejam essencialmente palavras – seu professor e talvez sua escola não acreditam que o que acontece naquele momento está sob seu controle. Imagine a dor de cabeça que seria tentar fazer isso acontecer com centenas de alunos, muitos dos quais “simplesmente não dão bola”? No fim das contas, o que acontece nesse momento e em milhares de outros momentos como esse provavelmente será principalmente um acidente: afortunado ou infeliz, encorajador ou frustrante, com imensas consequências para Asha e seus colegas.

Alguma coisa próxima à cultura ideal, em que os colegas de Asha estão se comunicando com contato visual e linguagem corporal: estamos ouvindo; respeitamos sua ideia; isso nos interessa; continue erguendo a mão, não ocorre naturalmente ou por acaso. Isso ocorre quando os adultos fazem acontecer.

Vamos encerrar com uma pequena parábola sobre algo que chamo de Paradoxo do band-aid.

No início do seu livro Previsivelmente irracional, um estudo de “por que as pessoas interpretam mal as consequências dos seus comportamentos e por essa razão repetidamente tomam decisões erradas”, o economista e psicólogo comportamental da Duke University, Dan Ariely, conta uma história sobre curativos.

Os enfermeiros geralmente atuam segundo a crença de que retirar curativos rapidamente provoca menos dor aos pacientes do que uma remoção mais lenta e gradual. A remoção rápida de um curativo demonstra ser a forma preferível de tratamento, é o que muitos acreditam.

Tendo sido vítima de uma queimadura na juventude, Ariely teve muitos curativos grandes sendo removidos por esse método e era cético. Seus sentimentos devem ter sido intensos, porque, estudando psicologia anos mais tarde, ele testou a ideia empiricamente e descobriu que a remoção mais lenta do curativo era na verdade mais preferível para os pacientes.

Ariely voltou ao hospital onde havia passado meses em recuperação e apresentou seus achados aos enfermeiros, mas ficou surpreso ao descobrir que, mesmo diante da sua pesquisa, eles continuaram com o tratamento aquém do ideal.

Ariely não levou em conta o desconforto psicológico que os enfermeiros sentiam quando removiam os curativos. Os pacientes expressavam ansiedade, medo e desconforto enquanto seus curativos eram retirados lentamente. O sentimento de que poderiam estar machucando alguém era ruim, mesmo que eles soubessem racionalmente que estavam ajudando, e prolongar esses momentos deixava as coisas ainda piores para os enfermeiros.

Acontece que, para os cuidadores, os aspectos psicológicos da administração do tratamento – mesmo um tratamento claramente benéfico – são um fator significativo na determinação dos cuidados que prestam. Chamo isso de Paradoxo do band-aid. A ansiedade dos cuidadores em relação ao tratamento faz com que escolham uma forma de tratamento aquém do ideal e a explicam com um argumento aparentemente baseado no interesse dos pacientes.

Um Paradoxo do band-aid similar influencia as práticas na área do ensino. A administração de “tratamentos” frequentemente resulta em um conflito com o que “parece bom” – ou parece seguro, ou concorda com as percepções do profissional sobre igualdade. Isso se dá mais intensamente quando, assim como com os médicos na hora de cuidar o paciente, nossa identidade está interligada com crenças sobre certo e errado.

Os professores constantemente se defrontam com tarefas desafiadoras e difíceis e precisam contemplar a possibilidade muito real de que terão dificuldades ou fracassarão, publicamente e à frente de uma plateia implacável, enquanto se esforçam para executá-las. Devemos sempre estar conscientes de que, para aquele que cuida do paciente, é mais fácil racionalizar o tratamento preferencial do que tentarmos o mais arriscado para os alunos a longo prazo. Diante da tarefa de criar uma sala de aula onde os alunos são socializados para demonstrar que valorizam as ideias uns dos outros por meio de ações sociais não verbais, incluindo o contato visual, é avistado o caminho da explicação de por que, antes de tudo, os alunos não devem ser coagidos a acompanhar seus colegas.

Quanto mais difícil a tarefa, maior o risco de algum educador em algum lugar criar uma justificativa contra ela que seja muito inteligente ou pareça correta. Esse é certamente um caminho muito menos arriscado do que o trabalho difícil e ingrato de moldar normas para assegurar os direitos de todas as crianças de aprender em salas de aula que verdadeiramente as preparem para alcançar seus sonhos.

Escrevi, na margem da minha versão do Aula nota 10 2.0, uma expressão que procurei usar frequentemente neste livro: responsabilização amorosa. Essa pode não ser uma expressão que ocorresse naturalmente a muitas pessoas. Confesso que foi preciso muitos anos escrevendo sobre ensino para que ela me viesse à mente. Mas ela é profundamente importante. Ela nos faz lembrar, primeiramente, que os momentos de responsabilização podem e devem ser feitos com um sorriso para lembrar os alunos de que nos importamos com eles e, em segundo lugar, que a responsabilização é uma forma de amor.

Quando fazemos uma chamada De surpresa, por exemplo, estamos atraindo os alunos – algumas vezes voluntariamente, outras vezes de forma hesitante – para a conversa e assim lhes dizendo que sua participação é importante. Estamos desenvolvendo neles um hábito de prestar atenção de forma mais plena e de manter esse hábito. Como escreve Zaretta Hammond, em uma frase à qual retornarei, “Antes de podermos ficar motivados para aprender o que está à nossa frente, precisamos prestar atenção. A característica de um aprendiz independente é sua habilidade de direcionar sua atenção para sua própria aprendizagem”. Desenvolver a capacidade de atenção de alguém é uma dádiva.

E se os alunos sentem uma pitada de ansiedade, tudo bem, isso acompanha o crescimento algumas vezes. Saber que aprendizagem requer que você fale algumas vezes e saber com a experiência que você é capaz; aprender a prestar atenção – inicialmente porque você sabe que seu professor provavelmente irá lhe chamar para mantê-lo atento e posteriormente porque, bem, isso se tornou um hábito – essas são dádivas de uma sala de aula conduzida com amor. Um sorriso durante uma chamada De surpresa lembra aos alunos e também a você mesmo – porque retirar um band-aid lentamente é difícil – que essa é uma coisa boa.

Na seção sobre a chamada De surpresa você pode ver Denarius Frazier e BreOnna Tindall fazerem isso. Eles estão sorrindo para seus alunos de forma tranquilizadora e calorosa enquanto fazem uma chamada De surpresa, e você consegue sentir o amor nesses momentos. Eles irão lembrá-lo, espero, que não é uma contradição chamar responsabilização de uma forma de amor. Isso nem sempre é o que os alunos escolheriam inicialmente se tivessem a opção, mas, ao final de tudo, eles frequentemente preferem isso quando o ensino informado por responsabilização amorosa – como o de Denarius e BreOnna e o de Christine e muitos outros professores neste livro – resulta não só em sucesso, mas em engajamento; quando os alunos se soltam durante a atividade e percebem a aprendizagem como um estado de fluxo. Então eles são mais felizes, mesmo que nunca relacionem a felicidade com a responsabilização que deu início a ela.

Apesar de saberem disso, no entanto, alguns deles ainda tomariam o caminho mais fácil. Em tais casos, é útil pensar a quem servimos na educação. Servimos à versão em que os alunos olham em retrospectiva para sua escolarização dez ou quinze anos mais tarde, à luz do seu efeito a longo prazo em suas vidas. E servimos a seus pais, que estão contando conosco para estimularmos seus filhos a criarem um futuro para si mesmos, em um mundo que os rodeia com distrações e mensagens de que está tudo bem, ou que é até mesmo legal, não fazer agora as coisas que criarão oportunidades mais tarde. Existe uma certa tradição entre os jovens de não quererem fazer o que seus pais dizem, mas no final acabam dizendo aos seus próprios filhos as coisas que seus pais diziam a eles. A educação é um longo jogo, e os pais estão contando conosco para termos uma visão de longo prazo. Você pode ouvir isso nas entrevistas do excelente How the other half learns, de Robert Pondiscio. Entre as mais comoventes, estão os pais cujos próprios educadores não tiveram êxito e que procuram escolas e salas de aula que evitem que os mesmos resultados atinjam seus filhos. “Eu me perdi no sistema”, uma mãe conta a Pondiscio, “e me recuso a deixar que isso aconteça com meu filho”. O sentimento de desespero é perceptível.

Parte de ensinar bem é ensinar os alunos a escolherem um caminho que seja íngreme e acidentado, do qual eles algumas vezes irão reclamar. É um longo caminho de subida, e talvez outros aparentem estar no que parece ser um caminho mais fácil, mesmo que ele não leve até o topo. Esse caminho mais íngreme envolve não apenas um trabalho mais árduo como também um trabalho psicologicamente mais árduo – tanto para o professor quanto para o aluno. Envolve puxar lentamente os band-aids. Envolve saber que o amor é algumas vezes paradoxal.

Se procura uma justificativa para fazer o que é fácil, este livro provavelmente não vai agradar você. Dito isso, há muitos livros que poderão agradá-lo. Se o seu propósito é encontrar a forma mais efetiva e cuidadosa de fazer o que precisa fazer para melhor servir os alunos, mesmo quando for difícil – especialmente quando for difícil –, meu objetivo é fornecer isso. Se esse é o livro que você está procurando, por favor vire a página.

Doug Lemov

Fechar

Texto descritivo do quiz deve ser aqui.


Iniciar
Chapter
Anterior Próxima

Confira o resultado

Questão Correto Respondido Justificativa
Respondidas corretamente
Respondidas incorretamente
Não respondidas
Salvar Quizz Imprimir
Fechar

Ver consolidado


Consolidado
3 (100%)
Respondidas corretamente
0 (0%)
Respondidas incorretamente
0 (0%)
Não respondidas