Prefácio

E chegamos finalmente à 2ª edição do livro “do anzol”, como acabou sendo carinhosamente apelidada esta obra. Ao longo dos últimos anos, ouvimos dos leitores várias hipóteses a respeito do que estaria fazendo um anzol na capa de um livro sobre dependência química. Alguns falaram que se tratava da droga: “uma vez fisgado, sempre preso”; outros disseram que o anzol é aquilo que oferecemos ao paciente para fisgá-lo. Minha versão preferida é a de que o anzol é cada um de nós. Somos todos anzóis na tentativa de puxar pessoas para vidas melhores. Não necessariamente tirá-las da água, mas possibilitar-lhes a chance de escolha ao apontar águas menos poluídas, águas que façam menos mal, águas que sejam menos danosas. Parafraseando nossa querida amiga Maria Clara Schnaidman Suarez, viramos agentes multiplicadores em forma de anzol.

No intervalo de tempo desde a 1ª edição, muitas mudanças ocorreram no País. Mudanças em diversas frentes: políticas, sociais, na educação. Fomos sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada. O Brasil tem discutido seus caminhos. Estamos em plena ebulição de transformações. As pessoas têm tomado posicionamentos e vivenciam situações políticas que nunca foram vistas antes. O mundo também mudou e, aparentemente, não foi para melhor. Há velhas e novas guerras, e tratados de união e paz estão sendo desfeitos. O terrorismo tem se alastrado por países e cidades onde antes não estava presente. O número de mortos devido a atentados aumentou e, mesmo assim, a quantidade de pessoas que morreram devido a homicídios no Brasil é ainda maior.

Somos testemunhas do descaso do poder público com o dinheiro dos altos impostos a que somos submetidos. Obras inacabadas, serviços que não são capazes de atender à demanda e às necessidades da população. Educação, saúde, segurança e tantos outros serviços básicos estão na UTI. Nessa tempestade, aqueles que mais necessitam de atenção devido a suas fragilidades acabam por ficar ainda mais  marginalizados em meio ao caos implementado por uma confusão de brigas partidárias, de cisão da população por visões extremistas e pelo sonho de um messias que tire a nação do estado em que se encontra.

Em situações de guerra, escolhas e decisões partem de princípios que são adotados unicamente nestas situações. Por exemplo, “primeiro mulheres e crianças”, quando se encaminham pessoas para os botes salva-vidas enquanto um navio afunda. Na guerra em que estamos vivendo, os mais vulneráveis têm sido exatamente os últimos a entrar na fila da sobrevivência. Dependentes químicos estão no final dessa seleção “natural”. Se estiverem em situação de rua, pior ainda. Se fizerem parte de minorias, a situação é ainda mais calamitosa. Mas não se engane, ninguém está imune ao julgamento raivoso e ruidoso. Mesmo astros da televisão estão à mercê da ignorância e da ira de uma população que é carente de informações a respeito desse problema. O julgamento e a condenação têm acontecido a céu aberto e bem em frente às câmeras.

A responsabilidade ao organizar esta 2ª edição se tornou, assim, ainda maior. Buscamos unir nosso melhor time de profissionais, os mais gabaritados, aqueles que não têm apenas a capacidade e o dom de escrever, mas que também vivem em suas práticas diárias as ideias que colocam no papel. Tivemos de nos adequar às mudanças ocorridas com o surgimento do DSM-5, com o fim do uso do termo “abuso” por este manual. Necessitamos atualizar tudo aquilo que foi dito na 1ª edição, mudar o que não está mais em voga, apontar novos direcionamentos, tapar as inúmeras brechas e falhas que obviamente percebemos ao longo de repetidas leituras. Como não falar de ética? Como não ter um capítulo sobre uso de substâncias e o ambiente de trabalho em uma época em que a crise deixou todos temerosos por seus empregos?

Quanto mais discutíamos sobre a nova edição, maior era a sensação de que muito precisava ser feito para manter esta obra de acordo com nossa pretensão inicial: um livro completo não apenas aos profissionais da área da saúde, como também para pessoas que tenham interesse no tema, e que pudesse englobar as tantas e tão variadas nuanças envolvidas.

Acreditamos que, após meses de trabalho, pesquisas, discussões, conversas, trocas, chegamos a um resultado de que todos que participaram se orgulharão e que os leitores, nosso foco maior, serão contemplados em suas expectativas. Mantivemos o formato, dividindo os temas entre os capítulos impressos e capítulos complementares disponíveis on-line a fim de oferecer ao leitor a maior quantidade de informação e no preço mais acessível possível. Estamos ansiosos por ouvir as impressões de cada um sobre este livro. Estejam todos convidados a mergulhar nesta obra.

Daniel Cruz Cordeiro
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