Durante a aula, o professor pergunta se os alunos entenderam o conceito. Eles respondem com um “hum, sim” e um sinal afirmativo com a cabeça. Parece que está tudo bem – mas o professor sabe que não está. O que fazer a partir de agora? Seguir em frente na aula? Insistir na pergunta? Doug Lemov vai além e questiona: essa é a melhor maneira para verificar se os estudantes aprenderam?

Esse é um dos exemplos que Lemov traz no livro que você tem em mãos, Aula nota 10 2.0. Após o sucesso de Aula nota 10, o autor poderia ter deixado o livro envelhecer gloriosamente nas estantes. Mas Lemov não escreveu um livro de biblioteca. Ele fez uma obra viva. Com o apoio de professores que vivem a sala de aula nos Estados Unidos, Lemov reviu práticas, mudou exemplos, refez boa parte da sua obra. Mas o coração, a ideia principal continua lá: aprender com o exemplo dos melhores professores, identificando as práticas mais eficientes em sala de aula. Muitas são simples e despretensiosas, em vez de complexas ou glamorosas. Mas todas são eficazes e nascidas da sala de aula.

Lemov, assim como nós, acredita no poder transformador do professor. Pesquisas mostram que bons professores aumentam muito mais o aprendizado dos alunos do que professores medianos, e os efeitos disso são cumulativos.

Ao mesmo tempo, ainda segundo as pesquisas, muitos dos fatores considerados importantes para melhorar o desempenho dos professores não determinam, sozinhos, o sucesso do ensino. Esses fatores incluem domínio do tema, personalidade extrovertida, experiência e tamanho da turma. Embora tais fatores sejam utilizados para recrutar, remunerar e promover educadores, há outras questões que devem ser levadas em consideração nas tentativas de definir um “bom professor”.

Por isso, o livro nasce de perguntas que todos nós já fizemos em algum momento. O que faz um professor ser excelente? O que é que os grandes professores fazem que os outros não? A excepcionalidade no ensino é algo puramente instintivo ou pode ser ensinado? O que podemos fazer para garantir que os alunos tenham os melhores professores possíveis?

É neste ponto que entra a técnica didática, objeto deste livro. Técnica pode ser ensinada e aprendida. Como em outras profissões, há ferramentas que funcionam melhor do que outras. Elas podem ser utilizadas com resultados melhores. Professores com boa técnica, domínio do tema e experientes são professores melhores – e têm um grande impacto no aprendizado dos alunos. Porém, a discussão e o ensino de técnicas ainda são incipientes no Brasil, e isso precisa mudar.

As políticas educacionais referentes ao professor envolvem uma série de temas. Formação inicial, recrutamento e seleção (que passa pela atratividade da carreira e a elaboração de processos seletivos, inclusive concursos públicos adequados), avaliação docente, formação continuada e referenciais da prática docente. Em todos esses componentes, há práticas que têm apresentado melhores resultados, sancionadas por estudos realizados em diferentes contextos.

As técnicas de Aula nota 10 2.0 são de grande valia para o professor brasileiro, cuja formação inicial nem sempre ilumina a prática docente. Em muitos casos, os professores ficam desnorteados ante turmas cada vez mais diversas, dado o grande esforço de inclusão em curso, e as crescentes demandas por um processo de ensino modernizado, que envolva experimentação, aprendizado aprofundado e aplicação de conceitos aprendidos na solução de problemas concretos. Este livro não tem como objetivo substituir a teoria pedagógica, mas sim ajudar o professor a encontrar e aplicar as soluções mais adequadas para os problemas que vivencia na prática, adaptando-as ao seu contexto.

Talvez o mais importante seja o argumento, dado pelo autor, de que o ensino eficaz é baseado em técnicas que podem ser aprendidas. Tanto os professores recém-formados como os mais experientes podem melhorar significativamente sua eficácia se dominarem as estratégias, perspectivas e técnicas adequadas. O caminho é diferente para cada professor, mas as ferramentas mais eficazes podem ser utilizadas por qualquer um, ajudando a diminuir a disparidade nos níveis de aprendizagem em qualquer sistema educacional.

O conteúdo deste livro é, portanto, de relevância especial em um país com enormes disparidades de renda e acesso à educação como o Brasil, onde apenas 10% dos alunos concluem o ensino básico sabendo o esperado em matemática. Os exemplos de Lemov são norte-americanos, é verdade. Mesmo assim, muitos deles são iguais aos desafios que os nossos professores vivem. O livro não é um manual, mas um ponto de partida. Afinal, como diz Lemov: “Dê aos professores uma coisa boa e eles a tornam melhor”. Isso serve para os professores norte-americanos, que inspiraram esta nova edição, e serve também para os professores brasileiros.

Esperamos que a disseminação desta nova edição sirva de apoio e inspiração para que os professores desenvolvam seus papéis da melhor forma possível, gerando os melhores resultados para aqueles que são o centro de todas as questões educacionais: os alunos. E, aliás, teremos muitas oportunidades para fazer isso nos próximos anos.

No Brasil, tivemos muitos avanços nos últimos anos, desde a ampliação do acesso à educação até a previsão de oferta de tempo integral para o ensino médio. A elaboração da Base Nacional Comum Curricular e o seu desdobramento em currículos estaduais e municipais irá nos permitir definir melhor o que deve ser ensinado nas escolas e, assim, estabelecer mais claramente as expectativas de aprendizagem. Mas isso não será suficiente se o professor não estiver bem formado para dar conta dos desafios da sala de aula. Nenhuma política pública, por melhor que seja, acontece efetivamente sem os educadores. Quando a boa prática se encontra com a boa política, os resultados aparecem. Concorda? (Não vale responder “hum, sim”).

Boa leitura!

Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (CEIPE/FGV).

Denis Mizne
Diretor executivo da Fundação Lemann.