Em 1983, uma eminente comissão norte-americana de educação fez a famosa declaração de que nossa “nação [está] em risco”, que “uma crescente maré de mediocridade… ameaça nosso futuro” e que devemos considerar nosso lamentável desempenho no K-12* como um “ato de guerra”. Com a confiança nas instituições tradicionais em baixa há algum tempo, vários estados convocaram professores e cidadãos para apresentar novas ideias, novas abordagens e propostas de novas escolas que ajudassem a reconstruir um sistema falido. As charter schools que emergiram no início de 1991 visavam servir como uma vertente de pesquisa e desenvolvimento da educação pública.

No último quarto de século, uma nova geração de idealistas respondeu ao chamado por uma reforma, sobretudo em cidades onde se sentia que o governo norte-americano ignorava milhões de crianças que viviam na pobreza e frequentavam escolas ineficientes, inóspitas e descontentes. Para conseguir construir suas próprias escolas e salas de aula, esses reformadores escalaram os muros da burocracia e enfrentaram os desafios que afligiram seus antecessores. Porém, como idealistas pragmáticos, eles não perseguiam a igualdade educacional de forma abstrata. Eles a perseguiam incansavelmente como solucionadores de problemas pedagógicos em uma comunidade de aprendizagem orientada para uma missão.

Repentinamente, abriram-se as portas das salas de aula – durante décadas tristes e estranhamente fechadas para os excluídos. Buscando exemplos com quem pudessem aprender e a quem pudessem emular, legiões desses idealistas afluíram para as salas de aula dos mais hábeis professores, cujos alunos se engajavam alegremente, focavam academicamente e trabalhavam juntos como um time, gerando resultados fantásticos.

Entre aqueles que estudaram as salas de aula dos excluídos, um professor alto e despretensioso – Doug Lemov – se deteve naquele ponto por muito mais tempo do que todos os demais. Ele percebeu a importância das linhas gerais pedagógicas que a maioria de nós não havia percebido ou não havia avaliado: como os professores circulavam, engajavam todos os alunos, direcionavam suas perguntas, enquadravam os aspectos positivos, otimizavam seu tempo, esperavam estrategicamente e depois trabalhavam as respostas dos alunos. Lemov teve olhos para enxergar os detalhes de uma aula bem dada e um coração para amar e celebrar os professores pelo seu impacto nas trajetórias de vida dos alunos. Ele preencheu muitas cadernetas pretas com rabiscos ilegíveis que lentamente se transformaram em frases e ideias aplicáveis. Então, em uma atitude precursora, enviou câmaras para as salas de aula para capturar as práticas exemplares em vídeo.

Depois de assistir ao replay em câmera lenta das movimentações pedagógicas, ele converteu suas anotações de campo em uma taxonomia de práticas de ensino efetivas – inicialmente para seu uso particular, em seguida para os professores da rede por ele fundada, as Uncommon Schools, e depois para servirem como base para milhares de treinamentos de professores e diretores nos Estados Unidos. Em certo momento – quando ele já havia produzido algo como a 28ª versão – o pressionamos a publicar; a hesitação por parte de Lemov nasceu da humildade, uma crença de que sua cartilha ainda estava em desenvolvimento.

Dessa forma, ele não estava preparado para o que aconteceu há alguns anos: centenas de milhares de cópias da sua taxonomia cuidadosamente montada, a 1ª edição deste livro, desapareceram dos depósitos das livrarias com incrível velocidade, atingindo cerca de um quarto dos professores nos Estados Unidos em todos os tipos de escolas – públicas, independentes, paroquiais, urbanas, suburbanas, rurais. Esses profissionais encontraram orientações práticas e acessíveis que poderiam usar não apenas para organizar suas salas de aula e planejar suas lições, mas também durante o ato de ensinar. Os professores iniciantes adotaram as rotinas infalíveis para manejar suas salas de aula, criar uma cultura de satisfação e desenvolver uma plataforma produtiva para a aprendizagem. Os professores mais experientes gostaram que Lemov “inventou uma nova linguagem do ensino norte-americano”, como explica Elizabeth Green em Formando mais que um professor. A linguagem de Lemov era a linguagem deles, repleta de memoráveis bordões e com lementada por imagens e vídeos de professores reais que os ajudavam a evoluir de “bons para excelentes”. Em uma publicação posterior, Practice Perfect, Lemov e seus colegas encorajaram os professores a ensaiar as técnicas e estratégias antes de improvisar na frente dos alunos.

Nesse ínterim, mais de 18 mil diretores e professores participaram das capacitações de Lemov por meio das Uncommon Schools, e outros milhares aprenderam sua abordagem por meio da Relay Graduate School of Education, fundada por ele para compartilhar elementos da didática efetiva que codificou. Vi seu trabalho se popularizar no Brasil, na Índia e na África do Sul. A rainha da Jordânia encomendou uma tradução para o árabe, enquanto professores na China, Coreia, Austrália, Holanda, Inglaterra e outros países trouxeram Aula nota 10 para suas salas de aula.

Aconteceu algo engraçado enquanto Aula nota 10 estava se tornando um fenômeno global. À medida que os professores aprendiam com Lemov, ele aprendia com eles. Durante a última década, ele visitou cerca de 10 mil salas de aula e assistiu a 10 mil vídeos. Desde a publicação de Aula nota 10, observou incontáveis professores se aprimorando, se adaptando e remodelando as técnicas que havia descrito. Uma das minhas técnicas favoritas é a que Lemov denominou “a cultura do erro”, na qual os professores criam um clima de segurança para que os alunos possam mostrar seus erros em vez de escondê-los. Depois de publicar a 1ª edição, Lemov ganhou quatro anos de feedback que o ajudaram a refinar seu pensamento, sua escrita e sua taxonomia.

Essa cultura, é claro, leva inevitavelmente a uma edição 2.0, que você tem em mãos. Os fãs da 1ª edição sem dúvida encontrarão nesta edição as mesmas técnicas essenciais – em um formato ainda mais aprimorado. O que há de novo, logo no início da versão 2.0, é um tratamento muito mais profundo e específico em relação a como “verificar o entendimento”. Também um material novo sobre a escrita dos alunos, bem como sobrea transferência de maior proporção do trabalho cognitivo do professor para os alunos. Em conformidade com os Padrões Estaduais Comuns – um desenvolvimento promissor que elevou o padrão pedagógico em todos os Estados Unidos – o trabalho de Lemov, mais do que nunca, estimula os professores a fazerem perguntas rigorosas e a engajarem os alunos em uma aprendizagem mais rigorosa.

Por todas essas razões, suspeito que um grupo mais amplo de professores, com uma gama maior de estilos, vozes e abordagens, se verá refletido neste livro. Eles descobrirão novas técnicas que poderão empregar em suas salas de aula e encontrarão uma linguagem nova ainda melhor. Ao mesmo tempo, muitos irão praticar, adaptar e inventar o próximo conjunto de técnicas que emergirão nas próximas décadas. Esperamos que o círculo de professores excelentes seja ampliado, que a comunidade interessada na prática do ensino aumente e que você faça parte da geração de professores que usa e desenvolve ferramentas que irão – como dizemos nas Uncommon Schools – mudar a história.


Norman Atkins

Cofundador e presidente da Relay Graduate School of Education e fundador das Uncommon Schools.

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* N. de E.: A expressão designa os anos de estudo que precedem o ensino superior. Esse período, no Brasil, compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.
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